Se existe um tema que está tomando conta do debate eleitoral nacional é o aborto. A presidenciável Dilma Rousseff (PT) vem sendo massacrada por supostamente ser favorável a descriminalização da prática. Bem, eu não estou aqui para defender a petista e também não quero entrar nessa falsa polêmica, até por que, penso que isso deve ser discutido por alguém que possua útero. Meu assunto é o arcebispo da Paraíba Dom Aldo Pagotto.
Ao contrário de mim, a autoridade cristã entrou de cabeça no debate sobre o aborto e trouxe o assunto para o estado. Através de um vídeo publicado no Youtube, no início desta semana, Dom Aldo criticou de forma pesada Dilma e o PT. Segundo o Arcebispo, desde que o partido assumiu o poder em 2003, com o presidente Lula, vem pregando a ‘cultura de morte’ no país. Ele ressaltou que existe um movimento mundial para descaracterizar o cristianismo e o PT representa isso no Brasil. Após os argumentos ele acrescenta o seguinte: “Não podemos ficar calados diante da atitude pró-aborto do Partido dos Trabalhadores”. Se para bom entendedor meia palavra basta, ele pede que os católicos votem no presidenciável José Serra (PSDB).
Por mais que pareça uma posição religiosa, o discurso de Dom Aldo é eminentemente político. Com ele, mais uma vez o Arcebispo se mostrou ser uma figura controversa e partidária. O fato é que desde sua posse, vez ou outra a igreja católica paraibana é inserida em polêmicas, e elas estão sempre ligadas a questões políticas.
Em 2008 quando o então governador Cássio Cunha Lima (PSDB) foi cassado pela primeira vez, o sacerdote apareceu ao lado do tucano durante a entrevista coletiva. Existem pessoas que garantem que ele chorou junto com o ex-governador tucano.
No ano passado veio uma nova polêmica. O Arcebispo suspendeu das funções de padre o deputado federal Luiz Couto, que é filiado ao PT. O motivo, Couto teria se posicionado a favor do uso da camisinha e da união homossexual. Na época, Dom Aldo acabou sendo vítima de diversos protestos inclusive de setores da igreja.
Já em 2010, através de uma Nota Normativa a arquidiocese proibiu padres de disputarem as eleições e também de ocuparem cargos públicos. Segundo o documento, publicado em março, aqueles que fossem de encontro à determinação teriam suspensos os direitos de celebrar missas e outros eventos católicos, até o fim de seus mandatos. Mais uma vez, a ação mirava em único um partido: o PT. Pois, já naquele momento os únicos sacerdotes que tinham chance de ser eleitos eram Frei Anastácio e Luiz Couto (o que foi comprovado no último dia 03) ambos petistas.
Diante do exposto chegamos ao titulo deste texto: Dom Aldo é um tucano disfarçado. Em suas ações ele deixou bem claro que sua preferência partidária é pelo PSDB e que vai ‘atrapalhar’ o PT sempre que puder. E por isso eu repito que o discurso dele contra o aborto não é uma fala religiosa e sim política. Ele contribui com a campanha difamatória contra Dilma ao mesmo tempo em incita o voto em Serra.
Agora, existe algum mal em Dom Aldo votar ou gostar do PSDB? Evidente que não. Como qualquer outra pessoa, ele tem total direito de possuir preferências políticas. Entretanto, ele não pode usar o seu cargo de líder religioso para fazer politicagem. E é justamente isso que vem ocorrendo.
Ao dar declarações como as do vídeo, o posicionamento de Dom Aldo é tratado como se fosse de toda a Igreja. Só que nem todos os católicos concordam com certas opiniões.
O ideal seria que Dom Aldo fizesse o que ele recomendou aos padres, ou seja, se afastasse de forma definitiva das discussões envolvendo política.
Veja o vídeo de Dom Aldo Pagotto: