Nos últimos anos a faixa do meio dia da nossa televisão vem ganhado uma característica bem peculiar .O horário que tradicionalmente é reservado ao almoço, na TV é concedido aquela que é a única certeza que nós temos, o mal irremediável, a sentença final, o último suspiro, ou também chamada simplesmente de Morte.
Soa estranho eu afirmar que o horário é cedido a morte, não acha? Alguém já a viu com seu tradicional manto negro e sua imensa foice apresentando algum programa? Seria no mínimo original, mas não é disso que estou falando e sim dos programas policiais que contaminaram nossa telinha e têm a morte presente em diversos sentidos.
Aqui em João Pessoa das 5 principais emissoras (em VHF), 3 exibem jornais policiais entre meio-dia e 1h da tarde. E a única diferença entre os três é o canal mesmo, por que no mais tudo igual. O princípio básico de todos é “morreu, antes ele do que eu, porque só me interessa é tirar o meu ($)”. Eles vendem a morte descaradamente transformando tudo num verdadeiro show, basta alguém ser atropelado, ser assassinado ou perder a vida de qualquer outra maneira que lá estão os urubus com suas câmeras em punho filmando os rostos dos pobres cadáveres e colocando tudo no ar com a maior naturalidade achando que toda a população está preparada para ver um corpo cravado de balas ou esquartejado. Chegam ao ponto de comentarem a matéria com a imagem do defunto paralisada ou de subirem os créditos finais do programa com o morto ao fundo.
Além de fazerem uso da morte no sentido literal, eles também matam os direitos da pessoa física, quando pegam uns pobres coitados que foram presos por pequenos furtos, por vandalismo ou outros crimes (alguns causados por embriaguez), e os expõem inclusive a situações ridículas como mandar que escolham se merecem um cartão amarelo, azul ou vermelho. Entendam-me eu não estou inocentando os criminosos só acho que a justiça deva condená-los e não a imprensa.
Outro que “bate as botas” ao meio-dia é o bom jornalismo, esse definitivamente é morto da pior maneira possível. Começa com radialistas tomando o lugar dos jornalistas de formação na apresentação destes programas. Muitas vezes esses fracos apresentadores não têm a mínima noção do que vai ao ar, é comum ouvir-se os “hein”, “qual é a próxima matéria ?”, deles se dirigindo aos diretores que respondem através do ponto eletrônico. Há ainda o uso de jargões difamatórios como desocupado, mau elemento e outros. E o tiro no coração do jornalismo é a venda das noticias, o apresentador olha para câmera e diz “Foi assassinado ontem com 15 tiros e 25 facadas, no bairro do Alto do Mateus aqui em João Pessoa, o desocupado João Maria” e logo em seguida muda o ângulo e fala “Se você esta com problema de diarréia, frieira, impotência sexual, artrite, conjuntivite, gonorréia ou qualquer outra coisa tome a Água Santa e você vai se sentir melhor, a venda em todas as farmácias” ai eu me pergunto como confiar em noticias dadas nesse tipo de programa? Será que se o fabricante da Água Santa fosse preso viraria noticia? É obvio que não, caracteriza-se aqui o chamado “rabo preso” e quem sofre desse mal não pode ter credibilidade por que vai esta sempre devendo a alguém.
É meus amigos como vocês puderam ver esse povo tem fixação na morte, usam e abusam desta figura e talvez ela nem saiba disso, desse prestigio todo e da alta audiência, por que se não já tinha vindo cobrar seu direitos.
Mais quem diria né Dona Morte, de uma das personalidades mais assombrosas e temidas do Universo passou a estrela da tv paraibana... que progresso!!
2 comentários:
Esses ditos programas policiais,são uma praga da televisão brasileira estão presentes em quase todas as emissoras,e infelizmente existem pessoas que perdem seu tempo os assitindo.
ei, véi... a Morte tá atrás de outro emprego... velhice é peso!!!
texto massa, cara, continua assim...
flw
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